4.9.07

Para quem sempre quis saber como era, é assim.

Dramatis personae:

AV: A Vítima
CC: Cromo com Capital
LI: Lacaio Insinuante
TE: Terceiro Elemento

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Cena: Um espaço de reuniões. Paredes brancas, tecto branco, chão branco, uma única porta branca, luzes brancas intensas. Sem mesa. Quatro cadeiras dobráveis em plástico preto dispostas em quadrado. Fumo de cigarro enche o ar. Temperatura elevada. Respira-se mal. Sua-se muito.

CC: Em primeiro lugar, queria dizer-te que admiro o teu trabalho pelo pouco que já tive a oportunidade de conhecer, quase nada, e acho que darás um contributo precioso a esta equipa.

AV: Obrigado. Espero que sim.

CC: Quanto ao projecto, admito que não tive tempo para ler, mas parece-me que será o caminho certo. Pedi ao LI para ler e gostou muito.

LI: Li e gostei muito.

TE: E eu também.

AV: Ainda bem. Fico contente.

CC: Parece-me precisamente o tipo de coisa que queremos fazer. Uma coisa nova, arrojada e que se atreva a ir contra o que já existe na televisão em termos de comédia.

LI: Assim uma mistura de Seinfeld com Monty Python.

CC: Isso mesmo. Monty Python. Acho que é uma referência que todos temos em comum.

TE: Monty Python. São muito bons.

AV: Pois.

CC: Apesar de preferir o Benny Hill aos Monty Python. Acho que o homem é um génio incomparável.

AV: Um génio... pois...

LI: Era um génio. Porque já morreu (risos).

TE: (risos)

CC: E, claro, não há nada de mal em adoptar os Malucos do Riso como modelo de humor televisivo de sucesso com um cunho bem português.

AV: Bom...

LI: Os Malucos do Riso, aliás, também devem muito aos Monty Python.

CC: Monty Python.

TE: Python.

AV: Que calor está aqui. Não se pode abrir uma porta?

(uma porta é aberta)

CC: Houve só um ou outro pormenor de que não gostei tanto e gostava de discutir isso contigo, mas será possível que mude de opinião se algum dia chegar a ler. Estou a basear-me na opinião do LI que fez o favor de ler e comentar comigo.

LI: Só li metade e gostei muito.

TE: Eu adorei. A sério. (risos, seguidos de encolher de ombros embaraçado)

CC: Em primeiro lugar, é mesmo absolutamente necessário isto passar-se dentro de uma vivenda pintada de azul? Não teria mais piada se fosse num duplex minimalista pintado de amarelo? Ou numa casa de campo de paredes caiadas.

TE: Ou numa tenda vermelha! (risos)

LI: A ideia do duplex minimalista soa-me muito bem, mas acho que devia ter kitchenette e estar pintado com um sortido de tonalidades pastel.

TE: Isso é muito bom! Laranjas e ocres! E outras cores também.

CC: Isso decide-se depois. Estou só a lançar estes temas de reflexão. Espero que não leves a mal.

AV: Claro que não.

CC: Depois há o problema do tom. O LI achou que era exagerado e sugeriu umas alterações.

TE: Aqui e ali.

LI: O texto está perfeito e não mudava nada, mas acho que este tom não é o mais adequado para uma comédia. Parece tudo... demasiado engraçado. Uma das alterações que sugeri seria trabalhar apenas com personagens com nomes começados por L.

AV: Para quê?

LI: Não sei. Achei que ficava mais cómico. Tive outra ideia. Posso pô-las por escrito se preferires. Que tal fazer uma ficha técnica com letras amarelas em vez de brancas?

CC: Acho que isso é mais do mesmo. Porque não sermos corajosos e introduzirmos a ficha técnica a meio de um episódio. É uma ideia. Estou só a tentar contribuir para enriquecer a discussão.

TE: (risos) Excelente! Muito engraçado! (risos)

LI: Isso já foi feito. Pelos Monty Python.

TE: Pois é. Já foi feito.

CC: E daí? Tudo já foi inventado. Acho que o importante não é ser original, mas sim ser criativo.

TE: Claro.

LI: É isso mesmo.

CC: O que te parece?

(só agora reparam que AV aproveitou a porta aberta para fugir; trocam sorrisos autistas; a seguir, baixam as calças e sentam-se em penicos dourados a la Luis Buñuel; fazem caretas de esforço)

FIM

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