11.9.07

O dia que não mudou coisa nenhuma


Um dos meus chavões jornalísticos preferidos é a referência ao dia 11 de Setembro de 2001 como "o dia em que o mundo mudou". Tem, sem dúvida, muito valor dramático. Mas, ao certo, de que forma é que o mundo mudou? Terá sido porque o dia em questão marcou o início de uma era em que o mundo (o mundo ocidental e branco, entenda-se) passou a ter motivos para recear o terrorismo?

Consultemos os dados. E, porque me estou nas tintas para a imparcialidade, recorro aos dados recolhidos por esse grupo desvairado de radicais esquerdalhos e conspiracionistas que é o Departamento de Estado dos Estados Unidos (com a consciência de que qualquer definição de terrorismo será sempre discutível).

Assim, de acordo com a fonte supracitada, entre 1968 e 2000, os três anos com mais ocorrências de incidentes terroristas foram 1987 (665 ocorrências), 1985 (635) e 1986 (612). A partir de 1986, os números foram decrescendo de forma quase contínua até se atingir o valor mínimo de 296 ocorrências em 1996. A partir daí, verificou-se nova subida gradual e, em 2000, ocorreram 426 incidentes.

Depois, veio 2001, o tal ano em que, no décimo primeiro dia do nono mês, nos dizem que o mundo mudou. E, pelos vistos, mudou para melhor porque só se verificaram 355 incidentes terroristas. Talvez fosse só o período de acalmia antes da tempestade. A tempestade de 205 ocorrências em 2002. E o furacão de 208 em 2003 (uma preocupante subida de três ocorrências).

Chegou então 2004, um ano que não mudou nada, mas que teve alguns motivos de interesse. Por exemplo, a transferência de poder das forças armadas americanas (que tinham invadido o Iraque no ano anterior porque Saddam Hussein fazia coisas feias e perigosas e também para trazer a paz e a democracia) para um governo interino iraquiano de autoridade questionável. Quantos incidentes terroristas nesse ano? 651. O segundo pior ano desde 1968. E será um exercício divertido tentar adivinhar quantos destes ocorreram no Iraque ou no Afeganistão, outro bastião da democracia recém-libertado.

651? Uma ninharia. Trocos. Veio 2005, os iraquianos elegeram os seus órgãos de soberania e, pasme-se, quatro anos inteiros depois do "dia que mudou o mundo", o número de ocorrências terroristas passava de 651 para 11.111 (de certeza que o número não foi forjado pelo valor icónico).

O que mudou com o 11 de Setembro? Mudaram duas coisas. A primeira foi o perfil urbano de Manhattan. A segunda foi o facto de termos ficado reféns de George W. Bush e das mãos que lhe puxam os cordelinhos, abdicando de direitos ganhos a custo em troca de protecção contra uma organização terrorista que parece esquivar-se à publicidade (indo contra os fundamentos básicos do terrorismo), liderada por um maníaco invisível e intangível que comunica através de vídeos obscuros e é secundado por colaboradores que só conhecemos depois de capturados e mortos.

o 11 de Setembro de 2001 não mudou grande coisa. O 11 de Setembro de 2007 também não mudará. Resta-nos esperar por 2008.

5 comentários:

Anónimo disse...

Concordo! Acho o dia 10 de setembro, uma data muito mais fascinante...
Vá-se lá saber porquê.

Beijinho

Salustio disse...

Apoiado!

caty disse...

Toma lá uma notícia capaz de ataques terroristas http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Vida/Interior.aspx?content_id=54650

JB disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Shelyak disse...

Enquanto o modelo seguido para eliminar o terrorismo for o actual, nada se vai conseguir, de facto...
Apenas através do desenvolvimento global, acredito...
Beijinho

 
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