15.6.07

Take it easy, Joe


Há qualquer coisa em Joe Berardo que me incomoda e não é a fortuna imensa nem o sucesso nos negócios. Há outros milionários portugueses igualmente bem-sucedidos (existirão milionários mal-sucedidos?) aos quais sou indiferente. Pelo menos, até decidirem atribuir-me uma avença para simpatizar com eles e louvar-lhes as qualidades.

Mas, no Joe, há alguma coisa que não bate certo. Talvez comece pela ânsia em ser um "vulto das artes" à força, comprando tudo e mais alguma coisa, compondo colecções e instalando-as em museus para apreciação popular. Calouste Gulbenkian, outro milionário que não me faz qualquer espécie, fez mais ou menos o mesmo. A diferença é que o arménio coleccionou arte por gosto, ao longo da vida, e doou-a a um museu com o seu nome quando deixou de a poder apreciar (ou seja, quando morreu). Berardo construiu a sua colecção com tamanha rapidez e de forma tão ávida que pareceu forçado. E não me convencem de que aprecia realmente esculturas em ferro forjado que parecem andaimes esmagados. Aposto que dá mais valor a um cãozinho de louça ou a um bonito menino da lágrima.

Talvez seja esta atitude de "eu posso comprar a maneira como sou visto pela sociedade" que me perturba. Agora, volta ao mesmo com a OPA sobre a SAD do Benfica. Se já conseguiu ser visto como patrono das artes e, por acréscimo, como pessoa instruída e de gosto refinado, que melhor maneira haverá de conquistar a afeição popular do que apropriar-se de parte de uma instituição com tantos seguidores devotos? O Santuário de Fátima não estará também disposto a negociar?

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