26.11.09
15.3.09
8 excelentes razões para não ser benfiquista
2 - Certa vez, conseguimos contratar o melhor jogador do mundo. Nos últimos anos, temo-nos esforçado por contratar o máximo possível de jogadores no extremo oposto da escala de qualidade.
3 - Qualquer equipa que jogue contra o Benfica automaticamente se transforma durante 90 minutos (98 se for o Porto e, por acaso, estiver a perder) num colectivo de deuses do futebol, como se os espíritos de Pelé, Beckenbauer, Platini, Puskas e Di Stefano baixassem sobre o plantel do Trofense. (Sim, eu sei que alguns dos espíritos continuam vivos. Não é preciso escreverem cartas.) Além disso, todos os guarda-redes, mesmo que sofredores de artrite e com estrabismo severo, se transformam no Yashin.
4 - Temos dirigentes tão preocupados com a "verdade desportiva" que não têm tempo para se preocuparem de vez em quando com ninharias como "não contratar o Balboa".
5 - Temos um treinador que continua a dizer que a equipa evolui bem e melhora com cada jogo. Em Março. Pareceria mais convincente se desse um sinal ou outro de perceber alguma coisa do assunto. Por exemplo, não pondo o Balboa a jogar.
6 - Nas nove ocasiões por época em que o Benfica é vitimado por erros de arbitragem que influenciam o resultado, ninguém alheio ao clube se importa. De três em três anos, quando um árbitro nos valida um golo em fora de jogo, perdoa um penalty ou assinala outro que não existiu, é como se houvesse um novo Watergate. E os primeiros dedos acusadores pertencem sempre a pessoas que falam no intervalo dos seus julgamentos por corrupção desportiva.
7 - O nosso jogador preferido é um angolano com os joelhos reduzidos a pudim, que joga uma média de 18 minutos por época e marca três golos decisivos.
8 - Finalmente, apesar de todos os motivos de queixa, continuamos a encher estádios, a comprar jornais e a repetir "desta é que vai ser" em cada Verão. Somos, claramente, pessoas dementes e ninguém deve querer aproximar-se de nós.
9.3.09
Ego
O problema era a faixa. Sobre o quadro, de parede lateral a parede lateral, estendia-se um rectângulo de pano branco onde se lia em letras pesadas e azuis: "RACZINSKY E UTWARG TÊM O PRIVILÉGIO DE APRESENTAR - ARTE". Nada mais. Apontei o pano a um deles e o outro adiantou-se:
- É conceptual. Bem vês.
Quando passaram a enumerar-me os convidados ilustres do grande dia, constatei que nenhum deles percebera o meu ligeiro desagrado. Perguntei-lhes pelo meu nome e pareceu-me que se fez luz no olhar de um dos meus grandes amigos. Penso que terá sido no de Utwarg. Mas foi Raczinsky a aproximar-se da caixa de papelão colocada sobre uma mesa, retirando do interior um rectângulo de papel e passando-mo para a mão. Era a brochura que seria entregue aos visitantes no dia seguinte. Na capa, a mesma incrição: "RACZINSKY E UTWARG TÊM O PRIVILÉGIO DE APRESENTAR - ARTE".
Abri. A primeira página estava em branco, possivelmente por motivos de estética tipográfica. Na segunda, havia uma fotografia de corpo inteiro em que Utwarg erguia o chapéu perante Raczinsky ou possivelmente o inverso. Na terceira, biografias resumidas de cada um em colunas paralelas. Na quarta, uma reprodução do quadro exposto. E na quinta, ao fundo, uma linha em itálico proclamava com discrição o meu nome como autor. Vendo que encontrara o que procurava, passaram a recitar-me de memória a ementa de acepipes. Tudo à base de caviar beluga e pequenas sandes de pepino japonês. Fechei a brochura e fiz estalar a língua entre os dentes. Deixei bem claro que nem tudo estava bem. Expliquei-lhes que não me agradava inteiramente que o meu nome tivesse tão pouca exposição quando os seus pareciam estar por toda a parte. Afinal, era eu o autor da obra celebrada.
Raczinsky olhou para Utwarg e Utwarg não evitou olhar para Raczinsky. Abanaram as cabeças ao mesmo tempo. Utwarg baixou os olhos até ao chão, desgostoso. Raczinsky olhou-me e vi que os seus olhos se enchiam de lágrimas.
- Sabes qual é o teu problema? - perguntou, com voz trémula. - Tens um ego desmesurado.
27.2.09
É oficial! Estamos na Casa Branca!
24.2.09
A Origem do Mundo
No que terá sido a sua primeira visita a uma feira do livro, um grupo de agentes policiais deslocou-se ao local e confiscou os volumes transgressores decorados com uma gravura chocante. E é realmente chocante. Pelo menos, foi essa a intenção original do pintor quando a criou em 1866. O facto de o seu potencial de choque, que já deveria ter expirado há décadas, continuar suficientemente activo para melindrar homens fardados e de barba rija torna o caso ímpar.
Que mostra a imagem afinal? É um quadro pintado por um francês (são sempre os franceses…), representando uma mulher anónima de pernas afastadas expondo o que a maior parte de nós saberá existir em tal localização. Não vou referir pormenores porque não quero estragar a surpresa a ninguém. É pornografia, pois claro! E não poderá ser exibida numa feira do livro aos olhos de frequentadores que poderão não ter a maturidade moral para compreender semelhante fenómeno anatómico. Afinal de contas, o lar natural e discreto da pornografia são os quiosques de rua, onde os olhares mais inocentes serão dissuadidos de mirar pelas expressões de censura dos políticos e futebolistas no escaparate ao lado.
Desculpa-se a PSP com as reclamações que terá recebido. Deveremos acreditar que a PSP atende a todas as reclamações que lhe chegam, por mais absurdas que sejam? Enviará agentes para confirmar se a sexagenária que contacta a esquadra em pranto tem realmente Belzebu dentro do açucareiro? Ou para averiguar o motivo do estranho aroma a açafrão proveniente do apartamento de uma família paquistanesa após alerta de um vizinho? Ou para apreender um livro reproduzindo na capa uma imagem obscena que, por acaso, é um quadro célebre não referido nas aulas de História da Arte do curso de formação da polícia?
Pensando melhor, não terá tanta piada como me parecia. É até um pouco triste pela tacanhez revelada e pela inclinação para o “parece mal” que já deveríamos ter ultrapassado há muito. Apreender um livro porque tem uma capa “obscena” num país onde a pornografia é legal e livremente vendida e consumida não faz realmente qualquer sentido. Mas o mais preocupante de tudo é pensar que, em Portugal, no ano de 2009, ainda se apreendem livros, qualquer que seja o motivo.
E nem sequer são os de José Rodrigues dos Santos.
19.2.09
E é por isto que Portugal não pode ter maiorias absolutas
in Público